domingo, 30 de março de 2008

mortos

Vivo num mundo de mortos. Sonhos e homens mortos.
Com os poucos vivos aprendo a arte de me fingir de viva. Aprendo a mistificação, a sobrevivência entre sorrisos e lágrimas, entre o desespero e a esperança. Aprendo o equilíbrio sobre a corda que leva ao abismo e ao outro lado, também desconhecido.
Com eles, os vivos, aprendo a esperar, a viver através da indignação, da explosão, me rasgando para sobreviver, me mutando e chorando copiosamente pelos mortos, que também são meus.

quinta-feira, 20 de março de 2008

são

Às vezes tenho vontade de brigar, bater, xingar, e ficar com raiva de você. Só às vezes e sempre. Pelo menos uma vez por dia. Por outras, várias vezes por dia. Em vão. E assim eles, os dias, passam, neste misto de amor e dor, prazer e raiva, calmaria e tormenta. Passam: pulsantes e vivos.

???

Como somos, nem eu sei. E você?
Mas pra que entender o inexplicável,
Penetrar o impenetrável?

Esfinge, quem é você?
Sou o labirinto. E você?
Não sei. Mas durmo com o Minotauro.
Conheces Teseu?
Ainda não, mas tenho esperanças: já achei seu cordão...
Encontrando-o, peça um autografo.
Do herói?
Do caminho.

verso

Tem dias que a única coisa que quero é ficar sob a mesa observando os pés e pernas que passam indiferentes à minha figura invisível. Só ficar olhando, plasmando. Na impossibilidade momentânea de um afeto, colo e aconchego, me encolher sob a mesa parece ser uma boa opção. Mas não seria por muito tempo. Logo após o poder da invisibilidade viria o grito imenso e entalado. Desses ensaiados em silêncio durante anos, existências atrás. Desses que nem todo mundo consegue ouvir. Ou tem coragem ou suporta o ruído profundo. Aquele que sem dizer palavra é cheio de significados, ou não - talvez seja só um grito. E por isso todos entendem e sentem medo. Mas por enquanto só quero ficar quieta. Olhar. Deitar num colo físico ou metafísico e aguardar minha hora. A hora de virar do avesso.

quarta-feira, 12 de março de 2008

esfinge

A cada dobra do labirinto,
Eu desconstruo o Minotauro.
A cada movimento da charada,
eu desmistifico a Esfinge.

Um dia não estarei nessas paredes sem fim.
Um dia não aguardarei respostas
Nem ficarei mais na expectativa de ser devorada.

Por hora, ando à procura do fio de Teseu.

terça-feira, 11 de março de 2008

quase nada

felicidade é coisa simples
e pode ser "quase nada",
como deitar num ombro amigo
e se sentir abraçada.

segunda-feira, 3 de março de 2008

o presente

Para você eu gostaria de compor
o verso mais simples, o mais singular,
o mais puro, o mais eterno,
o verso da mais pura inspiração.
Para você eu gostaria de propor
o presente mais suave, mais terno,
mais amável que o próprio Amor,
mais delicado que a Paz,
mais fecundo que a Fé.
Um presente de Poesia e Criação.
E dá-lo de mãos limpas.
De alma lavada e pés descalços.
Sorriso na boca e no coração.

Tentei achar seu presente ou,
pelo menos, me fazer próspera nesta busca.
Tentei.
Mas, não possuo a Singularidade prometida.
Não tenho a Simplicidade desejada.
Não sou e não serei eterna.
E a Inspiração não me assola todos os dias.
Não cultivo a Suavidade, nem provisória.
A Ternura e o Amor me observam
e esperam o momento da aproximação.
A Fé me falta como água a um sedento
num deserto com oásis por todos os lados.
E da Poesia e da Criação,
me sobra a vontade de compartilhar.

Mas, minhas mãos estão limpas, isto eu prometo.
Minha alma lava-se constante e diariamente.
Meus pés não alcançam o chão,
E meu amarelo sorriso se estampa
quotidianamente em meu rosto social.
Às vezes sai às gargalhadas,
em sôfrega busca do Humor perdido na infância.
E meu coração, estupefato,
aguarda notícias, consola, redime
e cuida, como deixo, de meus amores.

Assim, fico devendo o presente verdadeiro,
o entendimento necessário,
o envolvimento preciso.
Tenho apenas este Amor, conciso.