sábado, 26 de abril de 2008

silêncio

Era uma vez uma mulher que não falava nunca. Não que ela não falasse, falava, mas só coisas de interesse comum, ou do outro, anemidades, gracejos, agradabilidades, e não o que realmente ela precisava que fosse dito. Em tempos, ousava alguma poesia, própria ou emprestada. Porém, só as emprestadas eram ditas, as demais dormiam à espera de melhor lapidação, momento e propriedade.

Um certo dia, a mulher sentiu que algo lhe subia pela garganta. Alguma coisa de intenso, constrangedor e de uma quase-verdade escatológica. Abriu a boca, parecia que ia vomitar. Mas nada saiu. Ainda ficou à espera por algum tempo. À espera de marimbondos - ou caracteres de palavrões como aparecem nos quadrinhos, mas nada disso aconteceu. Nada. Apenas o silêncio, revelador como nunca dantes ouvido. Acompanhado de lágrimas que brotaram sobre o silêncio... sob algum olhar.

sábado, 19 de abril de 2008

pérolas 2

Por algum tempo, acreditei que jogar pérolas aos porcos valia mais a pena do que dar carnes às hienas. Hoje, prefiro colher delicadamente contas e com terna paciência, guarda-las para, no momento certo -que definirei ou se definirá qual é-, fiar colares de muitas voltas para olhares e adornos mais sutis, mais suaves, mais doces, menos apressados em ver os espelhos, os brilhos, mas atentos às delicadezas dos nacarados, das madrepérolas com tempos de história, formados e transformados nos vai e vem das marés salgadas...

> à Gina Pinto e Dani

terça-feira, 8 de abril de 2008

visão


Ah! Se os surdos olhos dos tolos que me olham embevecidos pudessem ver com lentes de raio X as asas que trago apertados no tórax, espremidas contra o esterno e as costelas, que doem o peito, que pulam pela traquéia como um alien desconhecido, porém meu... Só o tremor lento das minhas mãos delatam essa presença.

-Trago guardadas em meu peito as asas do meu destino...

[foto: Asas do Desejo, filme de Win Wenders]

segunda-feira, 7 de abril de 2008

pérolas

Não gosto de jogar pérolas aos porcos, mas ainda assim vale mais a pena do que dar carne às hienas.

real possível

Hoje não quero a poesia
Quero o grito
O suspiro
O soluço
O silêncio
Profundo
O medo
O abismo
O escuro
O poço
Sem fundo
Quero o que é meu
Não sonho o impossível, o improvável.
Quero o certo, o presente.
O único real que não me abandona.

terça-feira, 1 de abril de 2008

choros

Odeio quem me faz chorar mais do que meus choros cotidianos. Tenho minhas medidas...