sábado, 26 de abril de 2008

silêncio

Era uma vez uma mulher que não falava nunca. Não que ela não falasse, falava, mas só coisas de interesse comum, ou do outro, anemidades, gracejos, agradabilidades, e não o que realmente ela precisava que fosse dito. Em tempos, ousava alguma poesia, própria ou emprestada. Porém, só as emprestadas eram ditas, as demais dormiam à espera de melhor lapidação, momento e propriedade.

Um certo dia, a mulher sentiu que algo lhe subia pela garganta. Alguma coisa de intenso, constrangedor e de uma quase-verdade escatológica. Abriu a boca, parecia que ia vomitar. Mas nada saiu. Ainda ficou à espera por algum tempo. À espera de marimbondos - ou caracteres de palavrões como aparecem nos quadrinhos, mas nada disso aconteceu. Nada. Apenas o silêncio, revelador como nunca dantes ouvido. Acompanhado de lágrimas que brotaram sobre o silêncio... sob algum olhar.

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