terça-feira, 29 de janeiro de 2008

bares vagabundos e outros lugares

O texto fazia uma relação entre bares ruins e a esquerda intelectual... lembrei dele. Nosso bar preferido que fechou... demos a ele o nome carinhoso de Mosquinha na Parede... em lembrança de todas aquelas decorações “animadas” nos azulejos amarelecidos... a pizza era sem-igual feita na bancada totalmente carcomida que mal se sustentava e arrumada por um garçom de avental sujo mas com uma dedicação que ia desde o corte de rigor milimétrico da calabresa defumada até a entrega orgulhosa na mesa. A massa só Deus e, talvez, o sonolento cozinheiro, sabiam onde e como foi acondicionada e preparada, mas o calor do forno nos dava esperanças e nos protegia de qualquer ataque fulminante de bactérias e similares. Críamos. O chopp era bem tirado e gelado e havia cerveja em garrafa, igualmente bem gelada, que vinha sempre acompanhada de uma dose de cachaça vagabunda: um mimo ao cliente fiel. O café era morno, ralo, muito doce e oferecido de forma gentil: melhor esquecer. Os copos, pratos e talheres não deviam ser examinados de óculos, ou mesmo com o uso do tato, era melhor abstrair. As toalhas, preferíamos sem elas, mas retirando-as não melhoravam muito o quadro ou o suporte onde deveríamos comer, então ficavam, com as pontas para cima da mesa, e evitávamos ralar os cotovelos nelas. Técnicas avançadas de freqüentadores e usuários. Além da pizza, tinha o bife à milanesa com alho sem usura, e arriscávamos, em dias mais corajosos e ousados, novas aventuras: cozidos, feijoadas de sábado, picadinhos, etc. E a clientela nunca nos decepcionava com personagens e causos fascinantes, alguns criávamos a partir das situações presenciadas, das informações fornecidas pelos garçons ou pelos barracos armados - memoráveis! Uma coleção inteira de crônicas, causos e histórias tão humanas. Fechou e nos deixou orfãos... nos sentimos menos guerrilheiros no novo bar do bairro, ainda que tenha o nome de um palhaço imortal e que só aceite pagamento em dinheiro vivo (não eletrônico), os banheiros se projetem para as mesas e as mesas para a calçada...mas o Mosquinha, nunca mais... Hoje o local está fechado, desde então em obras e talvez, dizem, reabra. Mas, nunca será o mesmo. Se trocarem os azulejos, dedetizarem as “decorações”, mudarem os bacalhaus que pendem do teto, e retirarem as garrafas e tralhas diversas que se escondem secularmente sob o balcão, se mudarem os uniformes irreconhecíveis do cozinheiro e dos garçons, se, absurdamente e fatalmente, reformarem a cozinha... nunca mais...nunca será o mesmo... O que já aconteceu. Tempos atrás, e através de uma fresta entre as portas de ferro, vimos, com tristeza, todo o local já “no osso”: azulejos no chão, piso retirado, entulho por todo canto, e a cozinha! Toda desmontada, destruída, e no centro dela um enorme buraco! Parecia um túnel vertical, um poço, como se tudo tivesse sido consumido, tragado por ele! E foi! Desapareceu nosso Mosquinha! Mas ainda mantemos o luto respeitoso - todos os dias e vezes em que passamos ali, de frente ao Palácio da República, no Catete:

- “e o Mosquinha, heim? Tsc... Nunca mais...nunca mais...”


Nota 1: Ah! O nome verdadeiro do Mosquinha! Pizzaria Guanabara, acreditem.

Nota 2: Parecido, mas não igual ao Mosquinha só encontrei em Manaus, no bar do Armando, na praça do Teatro Municipal de Manaus. Não tinha o mesmo apelo sentimental, nem o mesmo público – este sim, tinha um público intelectual de esquerda, ou não. De toda forma, me tocou e fiquei de fotografar o local, mas desisti da idéia porque poderia causar algum desconforto à freguesia, e, no mais, preferi guardar na memória. Quem sabe algum dia?...

Nota 3: O Mosquinha não era, como cita o texto de referência, para "meio intelectual meio de esquerda", era lugar para guerrilheiro mesmo!

Nota 4: Tudo isso é muito o Jaguar. Sempre Pasquim!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

real diário

Todos os dias a realidade me atinge como um soco na cara...

[a frase está tão impregnada na minha cabeça que já nem sei se li em algum lugar ou eu mesma disse, escrevi, pensei... - perda total da noção de realidade...]

domingo, 13 de janeiro de 2008

herança

Essa estrela que você avista,
Talvez nem mais exista.
Pode ter milhões de anos -
Luz que viaja a vida inteira,
Só seu brilho se perpetua...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

hoje

Hoje, apenas um silêncio delicado.
Hoje, só o suspiro, a dor compartilhada,
A ausência e a falta, o lugar vago, o espaço não ocupado.
Hoje não tem música, não tem palavra, não tem ruído
nem assobio que ouse romper o silêncio.
Hoje só a vida paira, do início ao fim,
Magnânima, transcendente, inesperada.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

conselho

Melhor é esquecer
Melhor e mais sábio é desviar o olhar,
Amortecer o desejo, engessar a imaginação.
Prudente e seguro é comportar-se,
Envelhecer.