sexta-feira, 21 de novembro de 2014

quando a porca torce o rabo

a gente vai por ai
batendo o queixo
travando os dentes
mordendo a língua
comendo as bochechas
se remoendo
torcendo para que o entorno
mude
para que a torção
no torno da roda
não seja total
para que o tato
nos deixe mais atentos
que não sejamos comidos
pelo tigres
abatidos pelas águias
levados nas águas
das valas
rasas
para que sobreviventes
possamos
ao menos
roçar - o céu
da boca.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

BANG bang!

Manhã blindada,
Bom dia!
Obrigada!
Enfim dormir em paz
Paz
Morrer nas mãos da milícia
Enfartar nos tele-atendimentos dos prestadores de serviços.
A vida ocupada
À forceps
À força das armas
- hoje invadirão casas sem número...
O espaço invadido
- como sempre -
Só muda quem puxa o gatilho:
BANG!
E a vida se foi:
BANG!
E tudo mudou para igual:
BANG!
E a esperança feito morta
renasce
Ter posto de saúde,
escola,
creche,
dentes brancos,
casa emboçada,
endereço e Cep,
decência, cidadania.
Ser voto
Devoto ao pacificador.
[a miséria se oferece
para a sociedade faminta]
A colonização recomeça
e esses não são melhores que aqueles
Ou são?
E há as intenções
Ah! As boas intenções
cheias de inferno
E a vida retorna seu
fluxo
sem diálogo:
BANG!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

lista de Intenções

Tirarei ferias
Comprarei uma bicicleta aro 20 com rodinhas
Irei a Machu Pichu
Lerei sobre as caveiras de cristal
Olharei para o céu a procura de naves
Ficarei em silencio
Não sairei de casa
Tomarei banho de mangueira
Deitarei na grama junto com os grilos
Beberei agua fresca caída do céu
Verei um anjo no reflexo do sol
Saltarei sobre poças como se fossem abismos
Nadarei  em nuvens que bóiam sobre um mar de gelo
Bordarei a historia dos deuses como Penélope e Aracne
E não serei arrogante
Andarei descalça sobre areia de verão no deserto das horas
Farei pamonha e comerei com fiapos de seda que tirarei de meu próprio vestido
Falarei coisas convexas, pouco complexas, sem nexo para me fazer entender
Escreverei em sânscrito e aramaico mensagens de paz sobre guardanapos de bar molhados da cerveja e do suor dos dias
Farei coisas que Deus duvida, mais por divida do que por dúvida
Dançarei no som das palavras só para sentir a musica e levitar sobre o asfalto quente
Catarei caramujos peregrinos para lhes dar sombra e água fresca, depois os libertarei para que criem asas e voem para o mundo atônito
Limparei lama dos sapatos só para te-los limpos e depois enfia-los na lama de novo e de novo até me acostumar com ela, ama-la e reconhece-la pelo cheiro de vida como fazem os caranguejos
Lerei Guerra e Paz e Os Malditos e nunca mais lerei nenhum outro livro, ate encontrar algum que me interesse, que me refresque, que me ponha no colo
Falarei aos meus cotovelos que fiquem mudos, a partir de hoje não falem, não cantem, não gemam, não imaginem impossibilidades, não corram riscos, não pensem perigos, não se apaixonem, nem doam
Em solidariedade a eles farei cânticos que não cantarei, mas assobiarei sob lençóis e máscaras pintadas especialmente para os eventos sociais, e rirei disso tudo
Desenharei todos os paralelos universos desde Asgaard, com seus portais e pontes elevadiças sobre o nada.
Feito o desenho, bradarei Se faça, mesmo sem fé falarei. E não me importarei se nada se fizer porque sabido é que em algum lugar tempo espaço se dá, deu ou dará
Quebrarei copos e pratos, todos limpos, sem sujeira ou detrito de refeições e família. Depois colocarei a mesa e chamarei todos os amigos e servirei refeição simples, completa e com direito a sobremesa
Nenhum convidado poderá limpar as mãos sujas de azeite nos pelos dos coelhos brancos, nem nos de qualquer outra cor
Nao servirei guardanapos de pano ou papel, lamberemos todos os dedos e sorriremos uns para os outros como fazem as crianças
E as águas de nabo não serão necessárias porque não haverão assassinatos sobre a mesa nem sob ou no entorno dela
Depois farei poemas longos sobre devaneios e utopias. Não usarei virgulas exceto quando for preciso respirar e nunca nunca nunca colocarei ponto final



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

nada de novo no front

Existe uma gota presa
apenas uma, represa
reclusa em algum lugar
entre a língua e a laringe

Em meio
peito seios bicos bocas
não geme nem barulha
sequer marulha tão pouco
mar que é

não oprime, comprimido
garrado no esôfago
a torcer entranhas,
a tossir silenciosos urros

não sobe não desce
é gota que aguarda
sublimação,
evaporação
barata sem tragicomedias
lânguidas, desesperador
passar.

e o dado novo
do dia novo
é que não há nada
de novo nisso,
de novo...

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

bilhete

Bom é ser visita,
ser passagem,
passageiro,
alienígena.

Bom é ser
surpresa,
inédita,
notícia.

Bom é ser agora
hoje, que amanhã
não tem.

O imediato,
o que nem
sempre é
ou vem.

Há os que querem eternidades,
eu, viagem.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

mínimos contos

Boba toda vida em participar desse e-book ao lado de escritores como Augusto Pessoa e Celso Sisto, entre outros. O projeto gráfico é do talentoso super designer Marcos Correa, da Ato Gráfico, a organização foi de Benita Prieto e Julio Diniz. Lançado dia 5 de fevereiro de 2014 num dos eventos mais bacanas do grande Rio - o Simpósio Internacional de Contadores de Histórias, que acontece esse ano no Espaço Niemeyer, em Niterói. O meu conto está na página 53, mas indico ler todos - são de suspense em 140 caracteres, esse era o desafio! Foi divertido e ver agora publicado em projeto tão bonito... presente de início de ano! 
Se quiser ler o livro gratuitamente, é só clicar aqui em baixo! Boa leitura! =)

Contos Mínimos - suspense em 140 caracteres


ISBN 978-85-65126-01-4


Link

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

do homem aflito


Do homem aflito me dêem
as perdas, apenas elas,
para que delas se façam buscas
e resulte em boas novas.

Do homem aflito me enviem
os termos não ditos, à força
encolhidos, engolidos,
para que deles se faça renovação.


Do homem aflito me mande a tristeza, 
para que dela se faça poesia.

Do homem aflito me entregue a revolta
para que dela se faça uma revolução.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

o poço

no fundo um gemido
menos que um urro
mais que um suspiro

[respiro]

ensaio de grito
escalando muros
pedra a pedra

suspeitando luz
fugindo do escuro


esperança
palmo a palmo
dedos a retalhos

ralos

unhas quebram postiças
próteses rompem promíscuas
nenhum artifício 
suporta o ofício 
de surgir

por esforço máximo
usa-se os dentes 
lábios
e desespero


[respiro]

chorar não é válido
só vão

lágrimas só aumentariam
o volume das águas,
tantas...

que seguem e servem
para salgar o escuro
temperar o árido
lembrar do mar
sentir a brisa
cheirar maresia
ouvir o barulho das ondas
riso na areia

suor escorrendo
nas costas
na testa
sangue nas veias

[inspiro]

a subida é longa
e tanta que
duvida-se, em vezes,
se sobe ou desce,
já que nem a luz denuncia,
visto que pode ser
reflexo da luz verdadeira
miragem de liberdade
porém mesmo o espelho

indica que há
em lugar próximo
alguma
luz


[expiro]

a escalada continua
se para baixo
ou para cima
só o tempo dirá
ou nem isso

o movimento
denuncia a vida
repele o indesejável
afirma a intenção
assalta a escuridão
e por hora
isso que nem é tanto
já basta


[espero...]

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

do alto do prédio de 12 andares, ela pula...


O que é um ano? 365 dias conforme definido por um tal Gregório que ninguém sabe nem viu... E se visse nao faria a menor diferença... Um ano, um ciclo, algo pra se contar, contabilizar, marcar, celebrar o rito de passagem, rota, rôta passagem pela vida à fora. O que é um ano? 365 dias x 24h x 60min x 60seg, que pode ser igual a um lapso ou eternidade... Não causa causo, de todo jeito celebraremos a virada do ano, juntando memória e projeto, como sempre tem sido. E como a menininha de Quintana que pula do 12o andar, recitaremos de novo e devagar o próprio nome: ES-PE-RAN-ÇA!

texto e arte: lux