terça-feira, 24 de junho de 2008

a lenda do amor pra dois

Pensava que amar infinitamente seria o bastante, que amar ilimitadamente seria o suficiente. Acreditava que com um amor tão grande seria possível amar por dois. Que um amor assim seria, no mínimo, amado e o Outro amaria ser amado por este amor. Um amor assim tão imenso, tão pleno, tão sem senso seria por si algo tão poderoso que transformaria as realidades, mudaria o mundo, enfrentaria todos os limites, proporia novos padrões. Seria uma revolução esse amor. Mas, bastante não foi. O seu lugar foi preenchido pelo padrão confortável das convenções, dos limites sensatos, da formalidade aprovada. Ou sempre foi assim e nem se notou que era assim todo o tempo. Não havia revolução, nem quebra de fórmulas feitas. Não havia nada. Nem amor de verdade. Só ilusão.

reconstrução

E nem era tão importante, nem especial o bastante, nem a grande surpresa da vida, e nem era mágico nem milagre, nem vinha com fitinhas lilases a pretender festas e encantos, e nem amanheceu florido o dia, nem de risos e alegrias todas porque tal aconteceu, e nem foi festejado ou brilhou diferente o dia por conta do feito, e nem a vida se transformou e as borboletas desabrocharam como botões de flores do campo para voarem pelas brisas de verão, e nem foi quase nada ou tudo, só brincadeira e ilusão, jogo e cena, e de todo ocorrido se lucra as férteis águas de março aos frios ventos de junho. No entanto, mesmo nada sendo, o nada não será como antes. Alguma mensagem, aprendizado, sentimento? Ainda será cedo para saber, ainda será tarde demais para fingir que não aconteceu, para pretender não ter acontecido. Ainda será cedo para guardar o guardanapo de papel, secar as mangas ou retocar a maquilagem. Ainda será cedo para reconstruir tamanha desconstrução. Apenas um primeiro passo será necessário para iniciar, apenas um. Este aguarda forças, surpresa da vida, mágica ou milagre... enquanto isso, sobrevive como pode, desesperadamente.