quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

o poço

no fundo um gemido
menos que um urro
mais que um suspiro

[respiro]

ensaio de grito
escalando muros
pedra a pedra

suspeitando luz
fugindo do escuro


esperança
palmo a palmo
dedos a retalhos

ralos

unhas quebram postiças
próteses rompem promíscuas
nenhum artifício 
suporta o ofício 
de surgir

por esforço máximo
usa-se os dentes 
lábios
e desespero


[respiro]

chorar não é válido
só vão

lágrimas só aumentariam
o volume das águas,
tantas...

que seguem e servem
para salgar o escuro
temperar o árido
lembrar do mar
sentir a brisa
cheirar maresia
ouvir o barulho das ondas
riso na areia

suor escorrendo
nas costas
na testa
sangue nas veias

[inspiro]

a subida é longa
e tanta que
duvida-se, em vezes,
se sobe ou desce,
já que nem a luz denuncia,
visto que pode ser
reflexo da luz verdadeira
miragem de liberdade
porém mesmo o espelho

indica que há
em lugar próximo
alguma
luz


[expiro]

a escalada continua
se para baixo
ou para cima
só o tempo dirá
ou nem isso

o movimento
denuncia a vida
repele o indesejável
afirma a intenção
assalta a escuridão
e por hora
isso que nem é tanto
já basta


[espero...]

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