sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Apaixonado pela própria criação
tal qual um Pigmalião,
escultor de tantos detalhes,
carinhoso em cada toque
na mármore fria.
Quando clamei: Fala!
Ela obedeceu e agradeceu,
e sem me tocar,
silenciou, sem displicência,
alheia aos meus sentimentos.

eu quero uma pra viver...

E eu que tinha tantos sonhos
e ideologias...onde
estão eles agora? Me
sinto vazia e sem mim.
Me sinto falta.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

o que preciso

Hoje eu preciso é de poesia!
Mais que abraço, acalanto.
Mais que filosofias, relatos de vida.
Mais que aforismos, decisões.
Que a coragem me venha.
Que a decisão se instale.
Que o que eu sei que sei
aflore.
Que o que eu preciso dizer
seja dito.
Que o que eu sinto fique
claro como água límpida
e transborde necessária
pelos caminhos abertos
pacificamente, sem
enxurradas, mas
em eterna liberdade!

citação:
"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
[Cecília Meireles]

anjo caído

A chuva cai sem silêncio, enquanto os cachorros sorriem abanando o rabo para mim.
[Eles sabem quem sou - mais que eu mesma sei de mim.]
Leio os detalhes e marcas de uso de anos em objetos que não conheço e que não contam a minha história.
Estou aqui e aqui não me pertence.
Não pertencer a lugar nenhum, me ocorre, e ser provisória, já se tornou rotina para mim.
E não penso que isso seja ruim, mas me inadequa, me instala sobre a corda bamba do imprevisto, do temporário.
[Nasci sem história para cuidar, só para contar e motivar outras.]
Não sou daqui. Suspiro intimamente.
Nada aqui fala de mim, só as lembranças de algum uso, de alguma vivência, de ternuras e solidão.
Sinto-me muito mais pertencente ao desconhecido, ao que não vivi ainda, e aos próximos que irei conhecer um dia.
Minha alma sente saudade da liberdade de todas as possibilidades e imprevistos,
misto de medo e encanto pelo que não conheço mas que aguça minha curiosidade e desejo.
A vida é uma só, dizem. Perco a vida ou a alma? Uma é outra? Então me perco.
Minha vida e minha alma que deixei em alguma dobra do caminho, perdida sem rumo, sem perspectiva e desencantada. Minha alma que não cabe nos protocolos, nas regras, ordenações e normas cronológicas, sociais e religiosas. Minha alma devassa e adolescente, medrosa e dividida, teimosa e sem razão.
Minha alma, tal qual um anjo que cai, como a chuva,
sem silêncio.

citação:
"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!" [Florbela Espanca]