segunda-feira, 21 de julho de 2008

carruagem de abóbora

Construo meus amores com afeto, fé e gentileza.
Invento-os com delicadeza, inteligência e candura.
Moldo-os com detalhes, pequenos toques e muita paciência.
Descubro-os com atenção, doçura e coragem.
Planejo-os prevendo alegria, revolução e cumplicidade.
A partir dessa invenção viajo na história desses amores,
Vivo-os intensamente,
Amo-os infinitamente,
Rio e choro meus amores.
Depois num dia qualquer, por motivo qualquer,
Um orvalho que caiu mais cedo ou um grito fora de hora e lugar,
E freqüente, faz o pano se abrir, desnudando a história.
E os amores nus das minhas construções, invenções e moldes,
Descobertos se apresentam.
Amo-os ainda, mas sem inventos, artefatos ou lentes.
Amo-os como são: bobos, toscos ou irados;
Infantis, adolescentes ou mimados;
Herméticos, autoritários ou subservientes.
Amo-os como são ou se apresentam.
Mas agora meus olhos, através das minhas lentes limpas do borralho,
E passadas as horas mágicas, vêem sob a realidade construída
Tal qual a carruagem de abóbora
e seus cavalinhos de camundongos; mas
Ainda restará o sapatinho de cristal, guardado
A chave no mais delicado castelo,
Ainda restará nas mãos do mais amante de todos os príncipes,
Que ainda estará à procura da princesa, na mais incessante busca.
Esta princesa que não sendo mesmo princesa mas que ainda acredita em conto de fadas,
E torce sempre por um final feliz, e nem pede que seja para todo o sempre.
O sapatinho de cristal - todo meu sonho e amor
em mim guardado nos vários cômodos do meu coração,
Repousa, aguarda e ama, infinitamente.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

neste momento

Neste momento, só quero e preciso de um momento de delicadeza.
Nada mais que isso, nada além disso.
Um sorriso, um afeto, um toque delicado,
Um beijo na face que não me marque nem me identifique como algo de alguém,
Um abraço que não me esmague nem me sufoque,
Um olhar compreensivo, um ouvido atento e amoroso,
mas que não me julgue nem me analise, nem tente me compreender,
nem me leia, ou releia, que não se assuste nem se surpreenda,
nem se decepcione ou se admire pela minha covardia ou coragem,
ousadia ou infâmia, mas
que me olhe e me ouça como Deus faria, com absoluta compaixão,
humanidade, doçura de quem sabe também ser incompleto, imperfeito e livre.
Eu quero a delicada liberdade de amar e ser amada,
de ser como sou, do jeito que quiser ou puder ser,
ou do jeito que sonho ser, ou tento ser, ou penso que sou ou serei.
Eu quero apenas ser eu sem julgamento, dor ou sofrimento.
Eu sou o amor.
Eu sou a vida.

> Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
[em Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector]

domingo, 6 de julho de 2008

obsceno

vadia vaca puta piranha
meretriz safada cachorra devassa
nomes de mulheres marcados
à ferro e fogo na pele,
nos seios, no ventre e na boca
entreaberta a espera de redenção e afeto
ou que seja apenas um beijo
brutal ou delicado,
de selo ou língua
e que tenha desejo
ou admiração
tesão ou respeito
mas que seja, pelo menos,
um beijo.